top of page

O disco Chamamento é um convite para participar de uma estrada que se faz no caminhar, cruzado sertões, vilarejos, trilhas, cidades, fontes, cemitérios, além dos tantos personagens que vagam pelas estradas... O ritmo veloz de chamamés, galopes e rasta-pés faz levantar a poeira pelas dezoito faixas do disco, às vezes parando pra descansar à sombra de dolentes guarânias e toadas. 

O disco conta com a participação de músic@s e compositor@s como Henrique Neto, Marcelo Lima, Fernando Rodrigues, Andressa Ferreira, Elizabeth Soeiro, João de Abreu, Paula Zimbres, Gabriel Preusse, Lucas Muniz, Andressa Ferreira, Kadu Abecassis, Neviton Ferreira, Fernando Miranda, DJ Jamaika, Lidi Satier, Hélio Miranda, Thiago Ribeiro, Tássio Caetano, Valéria Lehmann, Sivuquinha de Brasília, Paulo Ohana, Rafael Miranda, Marcos Farias, além de violeir@s como Badia Medeiros, Roberto Corrêa, Emerson Fonseca, Macos Mesquita, Chico Lobo, Claudivan Santiago, Pedro Vaz, Ricardo Vignini, Júlio Santin, Carol Carneiro, Fernando Corbal, Cacai Nunes, Zé Mulato e a Orquestra Roda de Viola.

O dom da viola,

 

por Gustavo T. Falleiros (Correio Brasliense, 20/02/2016)

        As melhores conversas são ladeira acima e rio abaixo com vagar e fluidez, no transcurso do tempo. Quanto menos pressa, mais proveitosa a paisagem. E vamos no embalo. Naquela tarde, por exemplo, o papo engatou quando um interesse em comum veio à baila. Um interesse engraçado, é verdade, por filetagem em caminhões. Rapaz, então existe mais um ser humano observador dos ornamentos de carroceria?

        Existe. Filetagem é arte quase invisível. Na origem, embelezava as embarcações portuguesas. Aqui, estampa veículos pesados, sabe-se lá por quê. Com o maior orgulho os caminhoneiros cobrem a carreta com padrões abstratos e coloridos. Podem se feitos com pincel simples, molde vazado ou com um equipamento chamado carretilha. Nas três modalidades, o resultado depende da mão firme do artista.

        No transito, já me demorei além do razoável para sacar essas formas geométricas, mas Fábio Miranda foi além. Investigou o assunto. Diante de um achado, pede licença aos motoristas para fazer uma foto. Foi montado uma memória visual, uma seleta dos melhores trabalhos... Rimos até desse hobby. E lá se foram duas xícaras de prosa.

        Daí ele segredou: acha que a atenção para os detalhes é um dom da viola caipira. É como se o instrumento fosse uma lupa para miudezas culturais. Como violeiro e pesquisador ele visita os folguedos do país e escava tradições. Percebeu que os sincretisos são sempre mais fantásticos do que o descrito pela literatura. Que os temas se repetem, mas as afinações mudam. Que o toque da inhuma nunca é o mesmo.

        Difícil saber até que ponto essa visão ampliada é obra das dez cordas, mas que o caboclo domina o ponteado, ah domina. E foi muito feliz ao trazer para a capa do seu novo disco todo o engenho da filetagem. Fábio, me corrija se estiver errado, mas foi numa viagem de carona, na boleia de um caminhão, que você topou com o som de Tião Carreiro. Se foi, pagou uma dívida, mano. Da minha parte, faço o chamamento: o violeiro toca na próxima quarta-feira, no Clube do Choro.

Compra comigo!

11 9.6832-0236

bottom of page